Toledot Gn 25,19-28,9


CENTRO CRISTÃO DE ESTUDOS JUDAICOS

Estudo da Parasha da Semana - Cristãos estudando as fontes judaicas 
TOLEDOT – Gerações – Gn 25,19 – 28,9
WEINREB, Rabbi Dr. Tzvi Hersh. The Person in the Parasha. Discovering the Human Element in the Weekly Torah Portion. New York: Maggid & OU Press, 2016, p. 61-64.

 

TOLEDOT – GERAÇÕES (Gn 25,19 – 28,9)

Sexta à noite com meu avô

Meu avô paterno, Chaim Yitzchak Weinreb, era um antigo professor judeum com raízes na região da Polônia Oriental chamada Galicia. Ele tinha estudado com renomados Talmudistas no Antigo País e seu fervente desejo era ver seus netos crescerem e serem dedicados estudantes do Talmud.

Eu era seu neto mais velho e descobri desde uma idade bem pequena como ele estava determinado em conduzir-me naquilo que ele estava convencido ser a direção correta. Eu particularmente me lembro quando ele visitou a casa de meus pais quando eu estava no sétimo ou oitavo ano na escola. Eu tinha acabado de receber meu boletim e orgulhosamente mostrei-o a ele. Eu considerava que era um ótimo boletim, mas para ele, percebeu quanto desajustado estava o meu desempenho.

Ele falou-me em Yídiche, com frases em Inglês não adulteradas – num puro e antigo Yiídiche. Ele protestavam que meus cursos estavam desiguais. Você foi muito bem em Chumash (Cinco Livros de Moisés), mas não tão bem em Talmud. Como alguém pode verdadeiramente conhecer a Bíblia se ele for ignorante sobre o Talmud?

Eu, defendendo-me respondi-lhe que eu não via conexão alguma entre as porções da Bíblia de Bereshit que nós estávamos estudando e o Tratado do Talmud Baba Metzia, nosso texto do Talmud naquele ano. “O Chumash está cheio de grandes histórias, mas o Talmud cheio de argumentos jurídicos e de leis, alguns dos quais estão acima da minha cabeça”.

Ele sorriu-me e perguntou-me se daria a ele uma hora na próxima sexta-feira à noite, e ele me daria bola e refrigerante, me ensinaria uma canção, e demonstraria como as afirmações do Talmud sobre a Bíblia numa surpreendente perspectiva. Ele não apenas disse “que bom,” mas “maravilhoso”

Aquela sexta-feira, conforme ele havia dito – e ele sempre era verdadeiro conforme o que ele dizia – ele pessoalmente me serviu refrigerante e bola, ele pessoalmente ensinou-me uma canção que ele havia aprendido do seu antigo rabbi e pediu-me para rever com ele um pequeno trecho na Parasha Toledot (Gn 25,19- 28,9). Vocês conhecem a história. Esaú o irmão mais velho, retorna do campo, faminto. Ele encontra seu irmão mais novo, Jacó, cozinhado um pote de ensopado e lhe pede um pouco. Jacó está disposto a dar-lhe mas por um preço. Ele pede a Esaú que antes lhe venda seu direito de Primogenitura; isto é, os privilégios materiais e espirituais que são próprios do primogênito. Traduzindo literalmente, ele diz, “Venda para mim seu direito de Primogênito, como hoje!” (Kayom)

Enquanto hoje os pequenos hoje chamam seus avôs de Zaidie ou Saba , nós os chamamos de Grandpa. Apesar de seu anntiquado comportamento, em muitos modos ele era tão Americano quanto uma torta de maçã. Ele perguntou-me se eu tinha encontrado algum ponto problemático na história.

Eu tinha. “A frase kayom parece estranha, Grandpa. Por que Jacó insiste que a venda deveria ser ‘como hoje’”? 

Ele respondeu, “Bom! Talvez você tenha uma gemara kopp (inteligência talmúdica) depois de tudo! Mas vejamos se você pode perguntar algo sobre tudo o que apareceu nos textos do Talmud que você agora tem estudado na escola. Aqui está seu volume do Talmud. Eu darei a você dez minutos para vir até aqui e chegar com uma questão realmente boa”.

Dizer que eu havia ficado frustrado seria diminuir os meus sentimentos. Não somente eu estaria preso estudando toda a sexta-feira à noite e além disso eu estava na verdade sendo obrigado a pensar! Mas nada disse ao Grandpa. Assim eu abri o enorme livro, debrucei-me sobre ele, e dediquei-me na tarefa com grande concentração. Eu procurava uma conexão entre entre uma fascinante história e entre o que eu então experienciava como algumas regras entediantes e regulamentos.

Depois de algum tempo, provavelmente muito mais tempo do que os dez minutos combinados, eu tive uma experiência de “ahá”. Eu realmente tinha me entusiasmado, “Grandpa! Não pode ser! Como Jacó poderia comprar o direito de primogenitura de Esaú? Os privilégios duplos da herança de seu Pai Isaac deviam ser recebidos após a morte de Isaac, mas ele estava vivo ainda, mesmo que não inteiramente bem, naquele momento. O Talmud ensina que ninguém pode comprar ou vender objetos ou privilégios quando eles ainda não existem!”

Meu avô estava emocionado, mas não mais do que eu. Finalmente eu vi uma conexão entre as histórias da minha Bíblia e a terminologia jurídica do Talmud que eu comecei a perceber.

Ele então sentou-se de novo, pediu-me para relaxar e assumiu o papel de professor. Se você buscar a página 16 desse tratado que está estudando, você reconhecerá esse cenário. Um pescador deseja vender o peixe que irá pescar naquele dia para um cliente. Ele não tem o peixe ainda. Pode ele vender o peixe? Sim responde o Talmud. Ele pode vender o peixe se ele desesperadamente necessita do dinheiro para alimentar a si mesmo aquele dia. Mas se ele deseja vender o peixe, que ele irá pescar em trinta dias ou em um ano, então ele não pode fazer isso. Se alguém estiver desesperado ele pode até vender objetos que ele ainda não possui, mesmo peixes que ainda estão no mar”.

Existe uma lógica racional para esse princípio legal, o qual vou omitir aqui por causa da brevidade do espaço. Suficiente é dizer que agora eu vi a conexão entre a história e o princípio do Talmud:

É lógico que Jacó disse kayom (como hoje). Venda-me seus direitos de primogenitura mesmo tendo pensado que seus privilégios não serão realizados num futuro distante, mas faça isso em seu estado atual de desespero. Faça isso porque você está faminto, e no seu desespero tenha a habilidade legal, muito parecido com o pescador, para vender algo que ainda não existe, porque você precisa disso para as suas urgentes e imediatas necessidades. Venda-me seu direito de primogenitura como hoje, kayom.

Grandpa estava orgulhoso de mim naquele dia, mas eu estava ainda mais orgulhoso comigo mesmo. Ele contou-me que o que eu tinha descoberto por mim mesmo estava dentro do comentário Ohr Hahaim, que ele tinha estudado assiduamente aquela Sexta-feira à noite.

Ele então se recostou, olhou fixamente para mim com seus olhos azuis e disse, “eu estou pensando sobre um preço, uma recompensa por sua vontade de sentar-me comigo por algumas horas numa Sexta-feira à noite, por exercitar seu jovem intelecto, e por enxergar a conexão entre a Torah Escrita, Escritura; e a Torah Oral, Talmud.”

Eu fiquei sentado então, imaginando todos os tipos de possíveis recompensas, certo de que ele iria pedir a minha opinião. Kugel e refrigerante teriam sido bem aceitáveis, mas mais baixo do que a lista de sugestões que tinha. Eu pensava em muito dinheiro, ou no mínimo ingressos para um jogo de futebol.

Então ele me contou a sua ideia. “De agora em diante, cada vez que eu visitá-lo, nós iremos estudar juntos. E nós faremos disso nosso trabalho em descobrir conexões. Nosso lema será o versículo dos Salmos que diz que a Torah do SENHOR é perfeita, conforto para a alma e traz alegria para o coração”.

Que desapontamento para um garoto de 12 anos de idade. Mas hoje, muitas décadas depois, cada vez que eu me sento diante de uma página do Talmud, eu experimento a recompensa de Grandpa. Eu agora posso apreciar posso apreciar a vontade do Grandpa em por em risco a sua popularidade com seu neto, em vez de usar todos os meios a sua disposição para nos fazer sentar e aprender com ele. 

O que os argumentos do Talmud mostram de diferente a respeito da ação de Jacó?
O que os argumentos do Talmud mostram de semelhante a respeito da necessidade de Esaú?
Que outras questões surgiram a partir da leitura desses textos? Qual a recompensa afinal recebida?