CENTRO CRISTÃO DE ESTUDOS JUDAICOS - Estudo da Parashá da Semana – Cristãos estudando as fontes judaicas 
PARASHAT BEREISHIT  - Gn 1,1 – 6,8 - Rabbi Eliyahu Safran
Pearls from the Torah. Something old, something new. New York: Ktav Publishing House, 2018, p. 3 - 6

Por minha causa...
“Selfies”; Um mau fenômeno do nosso tempo

O Eterno, Bendito seja Ele, moldou todo ser humano à imagem do primeiro ser humano. E mesmo assim, ninguém se parece com seu semelhante. Contudo, cada pessoa é obrigada a dizer, “O mundo foi criado para o meu bem”
– Tratado Sanhedrin

Procurando no dicionário a palavra “selfie”, descobri que ela foi a palavra mais usada no mundo em 2013. Definida como “uma fotografia que alguém tirou de si mesmo, tipicamente tirada a partir de um celular ou webcam e distribuída pela mídia digital e redes sociais”. As “selfies” parecem capturar o ponto mais alto da nossa auto absorção. Na última estatística (e elas nunca terminam) constatou-se mais de 57 milhões de fotografias que traziam consigo a identificação hashtag – #selfie – povoavam somente o Instagram.

Nós vivemos num mundo selfie. “Selfie” deu origem igualmente a milhares de subespécies especializadas. Existem “helfies” – selfies de cabelos; existem “welfies” – selfies da pessoa trabalhando fora. “Drelfie”, uma foto de si mesmo enquanto você está bêbado – como se o mundo não pudesse sobreviver sem tal imagem correndo através de nossas realidades virtuais!

Não existe acontecimento algum, comum ou trágico que escape das “selfies”. Uma mulher chegou a derrubar e perder seu celular enquanto tentava capturar um homem suicida que procurava se jogar da ponte. Jornais publicavam e repercutiam a foto de um homem que depois de matar sua mãe, postou a foto da cabeça cortada dela.

Não existe mais vergonha? O nome diz tudo. Selfie vem de “selfish”: egoísmo. Auto absorção. É uma etiqueta que não reivindica nada além de MIM! Esqueça as maravilhas do mundo. Esqueça a beleza física que rodeia você. Esqueça o nascer do sol sobre o oceano. Esqueça a bondade das pessoas. Esqueça tudo, menos a MIM!

“Selfies” representam, por definição , a antítese do humilde, alma desprendida, as características que fazem de nós uma Tzelem Elochim (semelhança de Deus). Modéstia? Ah.... Num universo onde nada mais existe além de MIM que necessidade há de ter modéstia? Um líder religioso certa vez disse: “Nós somos egoístas. Tudo é sobre mim, eu, a minha impressão. Como aquelas pessoas que continuam tirando fotos de si mesmas”. Ele percebeu que existia um egocentrismo artificial, não natural, desde o mais simples até o mais poderoso.

Conversando com um estudante sobre minhas impressões sobre as “selfies” ele me surpreendeu com a resposta que todos somos egoístas e para reforçar sua opinião ele fez alusão a Sanhedrin 37a: “para minha felicidade é que o mundo foi criado”.

Eu fiquei espantado como aquele estudante nada compreendia daquela grande reivindicação. Lembrei-lhe o ensinamento de Rav Noach Weinberg. Ele perguntava: “Em que sentido este mundo é meu/nosso?”. E depois ele respondia sua própria questão. “É nosso para cuidarmos dele. É nosso para sermos responsáveis por ele”. Resumindo, o significado de “o mundo foi criado para a minha felicidade” é exatamente o oposto da selfie.

O mundo inteiro foi criado para mim não como um objeto de desejo egoísta mas de um modo em que eu possa participar consertando-o, assim eu posso assumir minha legítima responsabilidade em salvar e cuidar dele. É o meu mundo. Contudo, eu sou responsável por ele.

Rav Weinberg citava Moisés, quem “saiu para fora para ver seus irmãos e viu a dor deles”. Rashi comenta que o significado desse versículo é “Ele deixou o palácio do faraó (com todos os seus “selfies” confortos e “selfies” vaidades) , não meramente para ver a dor dos Judeus mas para identificar-se com a dor deles. Porque ele teria feito tal coisa? Porque o mundo foi criado para ele – para repará-lo e melhorá-lo.

Outro Sábio de Israel afirmava que toda pessoa deveria trazer consigo duas carteiras. Numa, um papel que lhe lembrasse: “O mundo foi feito por causa de mim”. Na outra carteira: “Eu nada sou além de pó e cinzas”.
O estudante estava certo. O mundo foi realmente criado para “você”. Mas ele não está completo; ainda não está cumprindo seu objetivo até que você cumpra os seus. Você tem inúmeros objetivos e missões neste mundo; você tem um propósito real na vida. O mundo foi criado por causa de você. Mas se você apenas vê a si mesmo como uma “selfie”, então mergulhe sua mão na sua segunda carteira. Você nada mais é do que areia e cinzas. Você não é o centro de nada, mas somente onde Deus o colocou.

Haley uma jovem mulher falou de forma mais refletida sobre uma poderosa crítica das selfies. Com 22 anos, eu vivi através dessa era de selfies e vivi culpada por mim mesmo. Eu nada sabia além das mensagens que eram levadas para os outros sobre mim e é claro sobre as mensagens, além das mensagens que eles falavam sobre mim.

Quando me perguntei porque afinal eu postei tantas selfies, eu nunca tinha uma boa resposta. Eu nem mesmo sei porque eu tirei tantas selfies... Eu as pegava e enviava para a “selfie” gratificação, para ouvir dizer que eu estava lindo. Eu deveria julgar quão “linda” estava a fotografia, e na verdade EU – através do número dos “likes” e comentários que eu obtive. Quanta estupidez! Eu fui bela e maravilhosamente feito. Por que deveria duvidar disso?

Embora eu me arrependa de ter chegado no nível das “selfies”, foi uma das maiores realizações que pude fazer sobre minha “modéstia pessoal”. Eu percebi que a única opinião que me importava realmente era a de Deus e que Ele vê a beleza no interior, não no exterior. Eu não quero ser considerado bela porque eu esteja usando aquele famoso protetor labial, ou um acessório da moda ou do mundo do esporte. Eu quero ser considero bela pela minha alma amorosa, por ser uma mulher de Deus, por ser atenciosa, compassivo e fiel.

Ela não é mais uma selfie. Ela não é mais egoísta. O mundo é dela.

Papa Francisco. “Estou preocupado com os jovens virtualizados, que pedem selfies e não sabem cumprimentar dando a mão”
Nesse sentido, recordou sua visita da sexta-feira à sede romana da Scholas Occurrentes, onde inaugurou, pela rede, as novas sedes na África e na América da fundação: “Havia muitos jovens, estavam agitados, muito agitados. Eles estavam muito felizes em me ver, mas poucos me deram a mão; a maioria estava com o celular ligado: ‘Foto, foto, selfie, selfie!’. A realidade deles é essa, esse é o seu mundo real, não o contato humano. E isso é grave. São jovens ‘virtualizados’. O mundo das comunicações virtuais é bom, mas quando se torna alienante, faz esquecer de dar a mão, faz saudar com o celular”.
Assim, disse o Papa, precisamos “fazer com que os jovens aterrissem no mundo real, sem destruir as coisas boas que o mundo virtual pode ter”. Neste sentido, ajudam muito as obras de misericórdia: “Fazer algo pelos outros, isto os concretiza. Entram em uma relação social”. Também é fundamental o diálogo com os idosos: “Com os pais não, porque são de uma geração cujas raízes não são muito firmes”; ao contrário, o diálogo com os “idosos” ajuda os “jovens desenraizados” a encontrar as raízes necessárias “para seguir em frente”.
http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/578942-papa-francisco-estou-preocupado-com-os-jovens-virtualizados-que-pedem-selfies-e-nao-apertam-as-maos
(Maio 2018)

Iniciar um novo ciclo de leituras da Torah pode nos ajudar a nos desenraizar de nossos “selfies” e estilos egoístas e encontrar também raízes necessárias para seguir em frente? Por que?


Bereshit e a ascensão dos discípulos de sábios Talmidei Chachamim

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