CENTRO CRISTÃO DE ESTUDOS JUDAICOS

Estudo da Parasha da Semana - Cristãos estudando as fontes judaicas – Dt 7,12 - 11,25

EIKEV – A ansiedade do Amanhã – Alain Haddad – Pedopsiquiatra – in: www.akadem.org
– Limoud – La manne ou l’anti-consommation – O Maná ou o anti-consumo

 

Parasha Eikev Dt 7 12 11 25

 

Eikev 

A parasha Eikev se encontra no último livro da Torah. Uma particularidade desse livro é que existe uma repetição dos temas precedentes da Torah – Mishne Torah. Mas existe igualmente bastante coisas novas, não somente repetição.

Nessa Parasha Eikev vemos uma discussão do povo com Moisés. Como conceber que esse livro de Devarim (Deuteronômio) foi ditado a Moisés pelo Huah HaKodesh – pelo Espírito Santo como a um profeta possa conter repetições? Lembrar como o povo judeu saiu do Egito, por tudo o que passou no deserto..., que passou pelo Sinai para receber a lei da Torah, o bezerro de ouro, e por uma história de quarenta anos, toda uma geração que desapareceu no deserto, que morreu lá.
E Moisés faz o papel então de um verdadeiro historiador, o que realmente se passou lá no Egito, o que se passou realmente no deserto? Vossos pais não respeitaram a vontade de Deus, cometeram a idolatria, se revoltaram contra Deus. Situações difíceis para lembrar. No final desse livro se lembra isso Deus falou para Moisés contar a todo o povo... Torna-se necessário Moisés ser esse intermediário junto ao povo que teve uma repetição também de comportamento durante essa caminhada. 

Eikev – que sentido teria esse nome dessa parasha?

Alguns sábios de Israel diziam: significa “Uma recompensa de Deus”; outros: “Como resultado”; outros: “Para que vocês escutem”.
Deuteronômio Capítulo 8, 10.11.14: Tu aproveitarás desses bens, comerás e te fartarás, bendizendo o SENHOR pela boa terra que te deu. Toma cuidado para não esquecer o SENHOR teu Deus, nem deixar de observar os mandamentos, os decretos e as leis que hoje te prescrevo. [...] Não aconteças que o orgulho suba à cabeça e esqueças o SENHOR teu Deus [...].
Temos um conjunto de leis a serem aceitas, no seu conjunto todo, não podemos escolher essa está bem, essa não está tão bem, essa é possível, essa não é possível.
Seja qual for a situação em que você esteja vivendo, a Torah é para ser aceita na sua totalidade, não é possível separar uma lei da sua Torah. A Torah não é um supermercado. Mesmo uma pequena parte do corpo tem a sua importância na totalidade do corpo. Nenhuma parte do corpo pode ser dispensada ou menosprezada.
Lembremos nessa Parasha de Eikev sobre o tema do Maná – uma espécie de alimentação dada por Deus no deserto, todos os dias. Não havia necessidade de outra alimentação; não existe outra forma de alimentação. Fora o sábado todos os dias chovia o Maná. É uma substância celeste, de qualidades biológicas, de todas as qualidades.
O Maná tinha também outra finalidade, desenvolver a inteligência e a espiritualidade. Existem diferentes tipos de espiritualidade, antes e hoje também. O Maná tinha essa característica de ser como uma realidade profética, pois ajudava a ver as coisas como elas são na verdade.
O Maná nos lembra sobretudo sobre o tema da dependência. Como nós temos dependência durante a nossa vida com os nossos pais, nossos parentes, nossas relações de amizade, de trabalho, o Maná vem nos lembrar da relação do Divino com o indivíduo.
O objetivo desse Maná qual é? O objetivo da vida é trabalhar para que obtenhamos os meios de subsistência, de sobrevivência, de obter mais dinheiro, mais casas, mais veículos, qual é o objetivo da vida, afinal? Mas esse não é o objetivo da Torah! O objetivo da Torah é fazer crescer em nós a confiança em Deus! E isso nos ajudará sem dúvida também não no abstrato, mas a ter mais confiança na família, nos estudos, em si mesmo.
Depois da narrativa do Maná ocorre uma descrição da terra em que eles irão entrar, toda uma bela descrição, existem rios, existem lagos, existe uma terra rica que pode ser trabalhada. Mas por que Moisés dá essa descrição tão detalhada, sobre sete frutos, sete espécies?
Pois o Senhor teu Deus está te levando a uma boa terra… Uma terra de trigo, cevada, uvas, figos e romãs: uma terra de oliveiras que emana azeite e [tâmara] mel." (Dt 8,8)
Por que afinal essa descrição?
Essa terra que produz tantos frutos magníficos para o ser humano deve também ser conquistada, merecida humanamente falando, socialmente e espiritualmente. Essa Terra que Deus vos dá, tão rica, deve ser considerada na sua natureza, respeitada por causa dos animais que nela vivem, é uma lição de ecologia com as leis que devem ser respeitadas na Bíblia. Esse desenvolvimento nessa terra deve ser científico, espiritual e respeitando as leis que Deus criou. O homem deve se lembrar disso. O desenvolvimento econômico que o homem tem não se deve somente a sua inteligência, a sua própria capacidade, mas lembrar que essa inteligência humana também faz parte do dom que seu Criador lhe deu.
Tem -se a impressão de que quando Moisés fala ele tem a intenção de atenuar esse desenvolvimento com a uma oração.
Le Birkat Hamazone : Uma oração histórica: O Birkat Hamazone, recitado após a refeição, expressa mais do que um reconhecimento a Deus; Ele refaz os grandes momentos da história judaica, em seu período glorioso e exílico. O Talmud distingue vários autores desta oração "histórica".

Talmud - Tratado Berakhot 48b:
Com relação às origens das quatro bênçãos da graça após as refeições, Rav Naḥman disse:
Moisés instituiu para Israel a primeira bênção de: Quem alimenta a todos, quando o maná desceu para eles e eles precisavam agradecer a Deus.
Josué instituiu a bênção da terra quando eles entraram em Eretz Yisrael.
Davi e Salomão instituíram a terceira bênção: Quem constrói Jerusalém, da seguinte maneira:
Davi instituiu "... em Israel, o teu povo e em Jerusalém a tua cidade ..." enquanto ele conquistava a cidade, e Salomão instituiu "... no grande e sagrado templo ..." como ele foi quem construiu o templo.
Eles instituíram a bênção: Quem é bom e faz o bem, em Yavne, em referência aos judeus assassinados da cidade de Beitar, no ponto culminante da rebelião do bar Kokheva. Eles foram finalmente levados para sepultamento após um período durante o qual Adriano se recusou a permitir seu enterro. Como Rav Mattana disse: No mesmo dia em que os mortos de Beitar foram levados para sepultamento, eles instituíram a bênção: Quem é bom e faz o bem, em Yavne. Quem é bom, agradecendo a Deus que os cadáveres não se decompuseram enquanto aguardavam o enterro, e faz o bem, agradecendo a Deus que eles foram finalmente enterrados.

E Moisés nos lembra com essa oração sobre a bênção dos alimentos que deve ser feita após as refeições: Vocês comerão e se saciarão com todos os frutos da terra, mas não se esqueçam: e preciso abençoar!
Deus não precisa ser abençoado! Mas então essa bênção é para que o ser humano se lembre: que foi criado por Deus, e que não somos autossuficientes, que podemos agradecer sim. Sou um ser que sou alimentado por Deus e essa bênção me permite lembrar disso. Que existe alguma coisa que nos escapa da compreensão da vida e que nós somos alimentados por Deus, que cuida de nós.
De qual modo Deus nos pede para agradecer? De lhe abençoar? A primeira parte, a primeira bênção Deus tem o poder sobre todo o Universo. E Ele sustenta e alimenta toda a natureza.
Josué – lembra que a influência da terra de Deus, o mundo inteiro pode se aproveitar da riqueza dos bens de Israel
Davi e Salomão – Lembram que todos podem aproveitar do que foi construído em Jerusalém.
Quarta bênção é mais dramática. Os romanos vieram a Jerusalém e um general fez a guerra contra os judeus. Essa batalha provocou muitos mortos por parte dos romanos que impediram o enterro dos mortos. E por um milagre esses corpos não se decompuseram até quando foi permitido o enterro dos que tombaram nessa luta.
Um bebê se alimenta do pão que lhe é dado. Dessa Parasha podemos nos alimentar também:

De respeitar a Instrução, a Lei de Deus.

Podemos aprender sobre o Temor.
Mas que tipo de Temor?
Temor da Guerra, claro. Temor da superstição, que é igualmente primitivo e arcaico. Mas se pode temer outra coisa, e de outro jeito: sobre o temor do amor.
Por amor, temos temor, que se traduz por respeito: aos pais, a um professor. Hoje se teme as leis dos governos, dos países....
Mas na Torah se fala de um outro temor. Temor de Deus que se traduz como tomar sobre si aquilo que Ele nos ensinou, sobre a Liberdade que Deus nos ofereceu, sobre o que nos ofereceu quanto às possibilidades, sobre a espiritualidade, sobre a moralidade, sobre a ética. Um temor que depende somente de nós mesmos. Deus não pode impor o temor a nós! Depende do nosso livre arbítrio. Um temor que vem do nosso amor, somente do amor.
Que ensinamento podemos então obter da parasha? Respeitar aquilo que nos ensina sobre o respeito ao próximo, sobre o respeito ao que recebemos, sobre a gratidão, sobre a oração sobre os alimentos como antídoto contra a autossuficiência, como remédio contra a perda da memória do que Deus realiza, sobre o respeito ao próximo e isso nos permitirá igualmente a respeitarmos a nós mesmos.

Procurar identificar qual a finalidade da bênção sobre o pão, sobre o vinho e sobre os alimentos?
O que essa parashá tem a ver com o tema dado pelo autor Alan Haddad sobre o Maná como Angústia do Amanhá ou do Anti-consumo?

Que outras questões surgiram a partir da leitura desses textos? Lembre-se, às vezes as perguntas que fazemos são mais importantes que as respostas que encontramos.