CENTRO CRISTÃO DE ESTUDOS JUDAICOS

Estudo da Parasha da Semana - Cristãos estudando as fontes judaicas – Dt 3,22 - 7,11

WEINREB, Rabbi Dr. Tzvi Hersh. The Person in the Parasha – Discovering the Human Element in the Weekly Torah Portion. United States: OU Press - Maggid Books, 2016, p. 519-521.

 

Parasha Vaethanan Para que rezar

Existe uma questão com a qual toda pessoa religiosa tem se confrontado e sendo igualmente questionado por ela. Mesmo aqueles que não são propensos teologicamente a fazê-la, têm lutado com esta questão: Por que afinal minhas preces não foram atendidas? Afinal, nós acreditamos na eficácia da oração. Por que então tão frequentemente existe uma experiência frustrante?

Todo líder religioso já se encontrou desafiado por muitas pessoas sinceras que lhes perguntaram sobre o núcleo central das orações se elas são de fato tão raramente respondidas. Eu mesmo pessoalmente me lembro de uma delas.

Alguns anos atrás um grupo de mulheres queria reunir-se toda semana após o Shabbat para rezarem juntas os Salmos, e rezar pelos enfermos da comunidade. Ao longo dos meses, elas já tinham acumulado uma lista enorme de pessoas que estavam e permaneciam gravemente enfermas e por quem elas fervorosamente rezavam pela sua recuperação.

Uma semana, elas me perguntaram se eu gostaria de rezar com elas, dizer-lhes alguma palavra de consolação, e responder algumas das suas questões. Claro que eu aceitei, fiz uma breve reflexão, e eu abri a palavra para perguntas. Embora as perguntas tivessem uma variedade grande de formas, elas foram muito bem representadas por uma questão individual que dizia: “Nós clamamos nos nossos corações e em alta voz em oração toda semana e sentimos compaixão por cada pessoa em nossa lista. Mas raramente alguém fica curado, e muitos nomes saem da lista quando a pessoa morre. Então para que serve mesmo a oração?”. Eu não me lembro da resposta exata, mas eu me lembro sim de que ela foi inadequada.

Depois daquela semana, eu recebi um bilhete escrito à mão na minha caixa de correio. Começava assim:

Caro Rabino Weinreb, numa recente conversa com o senhor, nos falou como muitas pessoas reclamam com o senhor sobre rezar Salmos para um amigo enfermo, mas que as orações não ajudaram de fato o enfermo que morreu. Elas lhe perguntaram qual seria então mesmo o valor das suas orações.

A mulher que escreveu o bilhete era uma enfermeira numa unidade de terapia intensiva num hospital local. Ela obviamente falou a partir da sua profunda experiência pessoal. Ela passou a dizer que a razão pela qual as pessoas acharem frustrantes suas orações é que elas esperavam uma cura total, mas que elas tinham que percebem também que existe muito maior necessidade de se rezar por alguém gravemente enfermo do que a sua completa recuperação.

Seguem aqui algumas sugestões para as pessoas rezarem para: que a pessoa enferma não sofra muita dor, ansiedade, depressão ou solidão; que a pessoa enferma seja tratada gentilmente e com dignidade pelos profissionais da saúde; para que as veias da pessoa enferma sejam fáceis de serem encontradas em injeções intravenosas; que a família da pessoa enferma tenha a fortaleza para segurar a tensão e para não abandonar o paciente; pelas decisões corretas a serem feitas, médicas e éticas, pela família, pelo paciente, pelo doutor, e pelo líder religioso de sua fé.

‘Se você rezar por tudo isso para uma pessoa enferma, você irá constatar então de que muitas das suas preces foram afinal respondidas”.

Palavras cheias de sabedoria, com certeza. E palavras que são especialmente oportunas na Parashat Vaethanan (Dt 3,23 – 7,11), que contém a história sobre a oração de Moisés e como a sua oração não foi ouvida pelo Altíssimo e Todo-Poderoso Deus.

Moisés pediu para que fosse permitido a ele entrar na Terra Prometida de Israel. Suas orações eram profundas e numerosas. De fato, os sábios sugerem que ele ofereceu a Deus nada menos do que 515 orações! Mas, como o próprio Moisés nos conta, Deus não considerou as suas preces. Pelo contrário, Deus disse claramente a ele para não lhe falar mais nada sobre esse assunto novamente!

Foram as preces de Moisés, de fato, não consideradas ou nem ouvidas no seu conjunto? Se nós prestarmos bem atenção ao texto, caro leitor, nós iremos perceber que Deus respondeu com no mínimo duas novidades para Moisés. Primeiro, Ele garantiu a ele a capacidade de olhar a terra, que não era um total cumprimento da oração de Moisés, certamente, mas um presente, sem dúvida! Segundo, e talvez mais importante, Ele lhe contou que seu sucessor, Josué, iria liderar o povo para dentro da terra e que iria ajudá-los a se estabelecer lá. Um líder que lhe foi assegurado um competente e vitorioso sucessor teve com certeza a garantia de que suas preces foram atendidas.

Temos então, uma perspectiva inteiramente nova sobre a oração. Devemos rezar por uma maior possibilidade de resultados e não nos limitarmos ao único e total sucesso. Deveríamos estar mais satisfeitos em nossas orações por aquilo que o SENHOR escolheu para nós. Os resultados podem ser modestos, ou até mesmo insuficientes, dos nossos pontos de vistas meramente humanos, mas são substanciais se nós pudéssemos abrir mais as nossas mentes para eles.

Um homem sábio disse certa vez, “Cuidado com o que você pede por se realizar, porque certamente você irá alcançar isso!”. A verdade sobre esse conselho bem humorado é de que nós somos ignorantes sobre aquilo que é bom para nós. Nós não entendemos bem sobre o que de fato deveríamos rezar para se realizar. Como é fundamental essa mensagem que eu aprendi a partir de um bilhete rabiscado escrita por uma sábia mulher muitos anos atrás.

Devemos sim considerar cuidadosamente sobre o quê nos rezamos e aumentar nossa lista de pedidos para cobrir toda a variedades das necessidades humanas. Somente então descobriremos que Deus não ouve simplesmente ou ignora as nossas preces; melhor na Sua Sabedoria, Ele responde a elas, seletivamente. Ele responde “não” para algumas das nossas súplicas, mas Ele pronuncia igualmente “sim” de forma retumbante para muito do que pedimos. 

Confira as seguintes citações bíblicas e identifique alguma concordância entre elas.
Explique a relação delas com a parashá de hoje. 

2Cr 7,12; Is 56,7; Eclo 7,9; Jn 2,8; Pr 28,9
Mc 9,29; Mc 11,24; Mc 11,25; Lc 5,16; Lc 19,46; 

Que outras questões surgiram a partir da leitura desses textos? Lembre-se, às vezes as perguntas que fazemos são mais importantes que as respostas que encontramos.