105 – Podemos falar de uma Filosofia Judaica?

Podemos falar de uma filosofia judaica

Tendo chegado às margens do Mediterrâneo, na África do Norte e, sobretudo, na Península Ibérica, o Kalam reencontrou novamente o pensamento grego que brilhava então pelos escritos em árabe de Aristóteles. Entre os séculos VIII e XI, o pensamento muçulmano conheceu seu apogeu com mestres prestigiados como Al-Farabi, Ibn Sina chamado Avicena, Ibn Rushd chamado Averrois. Essa herança grega e árabe foi depois aceita pelos pensadores do Judaísmo, não sem passar pelo crivo da leitura bíblica. Mais uma vez, o Judaísmo tinha se modelado em função das correntes filosóficas do seu tempo.

Isso poderia se tratar realmente de uma "filosofia" no sentido de um movimento do pensamento independente? Não. A filosofia, tal como era exercida em Atenas, e depois em Port Royal, Berlim ou Amsterdã era baseada sobre a dúvida e as exigências somente da livre razão. Os pensadores religiosos fossem eles judeus ou cristãos ou muçulmanos eram, antes de tudo, homens de fé, fiéis. Seu ponto de partida não consistia em descobrir Deus ou sobre a idéia de Deus, mas em resolver as contradições entre fé e razão, o que era novo comparando com a abordagem dos mestres da Palestina ou da Babilônia. A filosofia era nesse caso mais um meio, um método do que um objetivo em si mesmo. É abusivo, portanto, que se fale de Maimônides como um "filósofo", enquanto ele era metafísico. Apesar de tudo, e tal foi a liberdade de interpretação, foi do próprio coração do discurso profético, talmúdico e midráshico, que o pensamento judaico moderno se elaborou.

Essa literatura espanhola teve pouca influência sobre o pensamento universal: Maimônides que influenciou Tomás de Aquino, Crescas, e teses que foram retomadas por Giovanni Pico della Mirandola, ou ainda o exegeta Abraão Ibn Ezra cujo trabalho foi louvado por Spinoza. Basicamente, esses autores escreveram primeiramente para suas comunidades, mesmo que rapidamente se deram conta que a maioria falava numa linguagem elitista que a grande massa das pessoas não conseguia entender a sua sofisticação.