110 – Maimônides

110 Maimonides

Moisés ben Maimon, Maimônides, chamado Rambam permanece sem dúvida o maior pensador do Judaísmo racionalista. Ele marcou não somente o seu século, mas alimentou a geração seguinte com vivas polêmicas, e permanece sempre de uma grande atualidade sejam em ambientes mais piedosos, seja nos universitários. Foi um personagem central para a evolução do pensamento judaico, a ponto de fazer que seus defensores e opositores fossem conduzidos a repensar o judaísmo pelo critério da sua própria reflexão.

Nasceu em Córdoba, na Espanha, em 1135, filho de Maimon ben Joseph, um ilustre talmudista e um astrônomo conhecido. O jovem Moisés foi iniciado, como os outros jovens judeus sefaradis de sua época, nas ciências judaicas e profanas (em ambientes ashkenaze por reação ao antissemitismo os pais recusavam ensinar as matérias profanas às crianças). Por sua viva inteligência e sua curiosidade inesgotável, ele pode se apropriar a fundo de todas as riquezas científicas dos Árabes: matemática, astronomia, filosofia, história natural, medicina.

Teve que fugir da Espanha por causa da invasão dos Almoádas, muçulmanos fanáticos vindos de Marrocos, e acabou por se instalar em Fostat, no Egito. Lá foi chamado pelo sultão Saladin para ser médico da corte. Durante esse período redigiu além da função de médico, inúmeras obras de grande riqueza intelectual, com um comentário da Mishná, no qual ele desenvolveu uma introdução à psicologia importantíssima, uma obra de síntese legislativa do Talmud: a Mishné Torah, um tratado de filosofia religiosa, o Guia dos Perplexos, e tantas outras obras conhecidas por causa do tratamento das doenças psicossomáticas e dietéticas.

Ele quis com sua obra o Guia, apaziguar as consciências indecisas, "perplexas" por causa das tensões entre religião e filosofia. Também utilizou a exegese bíblica para chegar à verdade, o que era para ele a "verdadeira maneira de estudar a Torah".

Em nível de metodologia ele procurou seguir a explicação racional (peshat). Usava do princípio que "as portas da interpretação não estão fechadas para nós", ele achou necessário e legítimo colocar sempre a palavra revelada em harmonia com os fatos reconhecidos pela razão. Maimônides respeitava Aristóteles que considerava como o mais sublime representante do gênero humano, depois dos profetas, que foi beneficiado diretamente por inspiração divina. O seu postulado era que Fé e Razão não podiam se contradizer, ou melhor, dizendo, que o objetivo da razão era o de purificar a fé religiosa de todos os seus desvios fantasmagóricos, como a superstição, a magia, o panteísmo ou os antropomorfismos.

Compreendendo que era preciso oferecer as bases da fé judaica Maimônides não hesita em propor um credo em treze pontos, os "13 artigos de fé". Até hoje seus treze princípios são cantados na Sinagoga. Seu credo afirma globalmente a unidade e a não corporeidade divina, a necessidade de servir somente a Deus, o valor da Revelação, a grandeza de Moisés, a permanente mensagem da Torah, a justa recompensa das virtudes, a crença na vinda do Messias e a ressurreição dos mortos. Morreu em 1204, deixando atrás de si não somente uma vasta literatura, mas, sobretudo uma paixão pela filosofia, o que iria incomodar a vida das comunidades judaica, que após várias controvérsias entre 1230 e 1233, depois novamente entre 1303 e 1336 até ao ponto do Guia dos Perplexos ser queimado. Foi preciso esperar até ao século XIX com o movimento da Ciência do Judaísmo para que Maimônides pudesse ser novamente considerado como um nobre pensador do Judaísmo.