Bechucotai


CENTRO CRISTÃO DE ESTUDOS JUDAICOS

Bechukotai– Nos Meus Estatutos – Lv 26,3 – 27,34

– Cristãos estudando as fontes judaicas –

WEINREB, Rabbi Tzvi Hersh. The Person in the Parasha. Discovering the Human Element in the Weekly Torah Portion. New York: Shefa Maggid OU Press, 2016, p. 375-378.

 

BECHUKOTAI

Sou do tipo de pessoa que sempre acreditei que o único caminho para aprender algo de importante é comprar um livro a respeito do assunto. Por exemplo, tenho tido muita sorte e viajado muito em minha vida e visitado muitas cidades interessantes. Invariavelmente, eu compro guias locais antes de cada visita à cidade com itinerários detalhados dizendo “não deixar de visitar” esses locais naquelas cidades.

Eventualmente, eu aprendo que existe um modo muito melhor para conhecer uma nova cidade do que ler um livro sobre ela. É mais interessante, mais divertido, e mais inspirador andar simplesmente sem rumo ao longo da cidade. E até mesmo parei de comprar aqueles livros que fornecem mapas turísticos da cidade. Em vez disso, eu apenas perambulo, e não tenho me desapontado nesse processo.

A lista de cidades que eu sem rumo tenho explorado tem aumentado bastante ao longo dos anos. Ela inclui minha própria cidade natal Nova Iorque, a cidade santa de Jerusalém, numerosas cidades nos Estados Unidos, e algumas na Europa, como Londres, Roma e Praga.

Apesar da diversidade dessas cidades, eu inevitavelmente termino em um dos dois destinos: ou uma loja de livros usados ou algum parque, normalmente no qual existam crianças brincando.

A última vez tive esta experiência, na qual fiquei bastante surpreso e murmurei comigo mesmo: “Eu acho que meus pés me levam onde meu coração quer que eu vá”.

Tão logo essas palavras me vieram, eu percebi que elas não eram na verdade minhas palavras. Melhor dizendo, tinha sido precedido nessa reação por duas grandes figuras na história Judaica: o grande sábio Hillel e o outra nada menos do que o Rei Davi. E isso nos leva até à Parashat Bechukotai (Lv 26,3 – 27,34).
A parasha começa, “Se vocês seguirem Minhas leis e com fé guardarem Meus Mandamentos, eu concedeirei as chuvas na estação certa”. Essa é a tradução padrão desse versículo de abertura. Mas uma mais literal tradução começaria não por “Se voce seguir Minhas leis”, mas antes, “Se você caminhar com Meus estatutos”. Muitos tradutores de forma compreensível escolheram a palavra “seguir” sobre a outra palavra literal “caminhar” nesse contexto.

Mas o Midrash tem uma abordagem diferente. Ele mantém a literal “caminhada”, a conecta com a frase no Salmo 119,59, onde se lê: “Eu considerei os meus caminhos, e virei meus passos para os Seus decretos”. Depois de ligar o versículo da nossa parasha com esse versículo dos Salmos, o Midrash prossegue, colocando as seguintes palavras na boca do Rei Davi:

Mestre do Universo, todos os dias eu decidia ia a tal e a tal lugar, ou a tal e tal morada, mas meus pés me levavam a Sinagogas e Casas de Estudo (Beit Hamidrash), como está escrito: “Eu virei meu passos para os Seus decretos”.

Muito antes desde Midrash ser composto, mas muito tempo depois da vida do Rei Davi, o sábio rabínico Hillel é lembrado pelo Talmud por ter dito, “Para o lugar que eu amo, é para onde os meus passos me levam” (Sukka 53a).

A lição é clara. Nosso insconsciente conhece nossas autênticas preferências internas muito bem, tanto que não importa quais sejam nossos planos conscientes, nossos passos nos levam para onde na verdade queremos estar. Tomando como exemplo a mim mesmo, eu dizia comigo mesmo quando visitava alguma nova cidade que eu queria ver as suas antigas ruínas, seus museus, seus palácios, e Casas do Parlamento. Mas meu interior conhecia melhor e instruía meus passos para dirigir-me para o mofo de sebo de livros usados onde poderia navegar para o núcleo do meu coração, ou para lugares fora do comum, frondosos parques onde eu poderia observar as crianças brincando.

O Midrash compreende a frase de abertura de nossa parasha “Se você caminhar com Meus estatutos”, como indicando o desejo da Torah que nós internalizemos as leis de Deus completamente para que elas se tornem nosso maior objetivo na vida. Mesmo se nós incialmente definimos nossa jornada da vida em temors de muitos diferentes objetivos, as leis de Deus irão se tornar, assim espera-se, nosso último destino.

Existem muitos outros numeros caminhos sugeridos por comentaristas através dos tempos que entenderam a frase literal “Se você caminhar nos Meus caminhos”. De fato, Rabbi Chaim ibn Atar, o grande autor de Ohr Ha-Haim do século XVIII, enumera nada menos que quarenta e duas explicações sobre esta frase.

Muitas das suas explicações, embora não idênticas ao nosso Midrash, são consistentes com isso e nos ajudam a entender o Midrah ainda mais profundamente. Por exemplo, ele sugere que usando o verbo “caminhar”, a Torah está sugerindo para nós que algumas vezes é importante para nossa vida religiosa deixar o ambiente familiar. Alguém tem que “caminhar”, embarcar numa jornada a algum lugar distante, a fim de realizar plenamente a missão religiosa dele ou dela. É duro sermos inovadores, é difícil mudar, na presença de pessoas que conhecem a nossa vida inteira.

Ohr Ha-Haim também nos oferece o seguinte e profundo insight, tirado do livro do Zohar:
“Animais não mudam a sua natureza. Eles não são “caminhantes”. Mas os seres humanos são “caminhantes”. Nós estamos sempre mudando nossos hábitos, afastando-nos da conduta comum para uma nobre conduta, e dos mais baixos níveis de comportamento para os mais elevados. “Caminhar”, progredir, é nossa verdadeira essência. “Caminhar” nos distingue do resto de todas as outras criaturas de Deus.

A frase “caminhar” é portanto uma poderosa metáfora para aquilo que somos. Não é de se espantar, portanto, que a porção final do Livro do Levítico comece com tal escolha de palavras. Toda a vida é uma “jornada”, e apesar de nossas intenções, nós de alguma forma chegamos em Bechukotai, “Minhas leis”, para assim terminarmos nossa caminhada através deste terceiro livro da Bíblia com estas palavras, “Estes são os mandamentos que o SENHOR deu a Moisés para o povo de Israel no Monte Sinai”.


Confira as seguintes citações bíblicas e identifique alguma concordância entre elas.
Explique a relação delas com a parashá de hoje. 

Ex 3,18; Ex 8,23; 2Cr 6,16; 2Mc 5,21;
Sl 25,5; Sl 86,11; Is 2,5; Jr 44,23; Mq 6,8; Zc 10,12;
Lc 13,33; Lc 24,15; 1Jo 2,6.