mapa reino israel e juda

11 – O Reino de Israel

Jeroboão foi um rei carreirista sem escrúpulo que não pensa duas vezes em corromper e desviar o povo do culto de Moisés, quando mandou construir dois bezerros de ouro que colocou um no extremo norte e outro no extremo sul do seu reinado (1Rs 12,28)[1]. Sem a tribo sacerdotal de Levi, ele criou seu próprio clero para responder às necessidades do povo. Mas sua falta de diplomacia e orgulho o cegaram ao ponto que a unidade das suas próprias tribos ficou enormemente fragilizada.

Depois de sua morte a anarquia teria se alastrado se seu sucessor Omri não tivesse sido um homem conciliador e de diálogo (1Rs 16,23). Ao mesmo tempo mantendo a independência frente ao Reino de Judá, Omri estabeleceu boas relações com as tribos do sul. Mas diante da ascensão da poderosa Assíria, ele decidiu se aliar com os Fenícios e casa seu filho mais velho Acab com Jezabel, filha do rei de Tiro e sacerdotisa do deus Baal (1Rs 16,30).

Do ponto de vista econômico o reinado de Acab foi marcado por uma grande prosperidade, mas sob o ponto de vista moral e religioso ele foi uma catástrofe. "Ele balançava entre os dois pés. Em honra de Baal ou de outros ídolos e em honra do Deus de Israel. Sua memória sempre foi considerada maldita através dos séculos (2Rs 9,7-10; Mq 6,16)".[2] Os ricos lucravam muito encima da vida dos mais pobres, crescia o culto do deus Baal, a prostituição sagrada, os sacrifícios de crianças e a feitiçaria ganharam feições mais e mais atrativas. Acab, que não recusava nada a sua esposa, iria impor as suas opiniões à toda a população, caso um homem não tivesse aparecido em seu caminho: Elias.

Profeta zeloso do Eterno Senhor, Elias era taumaturgo (realizava milagres) admirável. Ele rejeitou toda forma de sincretismo: "Até quando, disse ao povo, ficareis balançando entre dois lados? Se o Eterno é Deus, segui-O, se for Baal, segui-o" (1Rs 18,21). Ele até ameaçou os sacerdotes do deus Baal num tipo de "duelo espiritual" sobre o Monte Carmelo. Embora os sacrifícios fossem proibidos fora do Templo, Elias transgride a lei, pois o futuro da nação estava comprometido. Enquanto a oferenda dos sacerdotes de Baal permaneceu intacta, os animais de Elias foram consumidos milagrosamente por um fogo do céu. "Elias lutou para purificar a crença verdadeira num único Deus e contra a hipocrisia religiosa e o culto de Baal". [3] A tomada de consciência do povo durou pouco tempo (os milagres na verdade não mudam profundamente o ser humano, somente o trabalho da fé pode transformá-lo). Tendo sabido da morte dos sacerdotes, a cólera de Jezabel aumentai mais ainda contra Elias e esta ordena a morte de centenas de profetas de Israel. Elias sem coragem alguma foge então para o deserto do Sinai, lá onde alguns séculos atrás, seus antepassados tinham recebido as Dez Palavras, os Dez Mandamentos.

Mas desta vez, o Eterno Senhor não se manifestou de forma grandiosa, mas através de uma "voz de um doce silêncio" (1Rs 19,12), como para ensinar a paciência a Elias. Essa "voz" poderia também simbolizar os servidores fiéis a Deus, que iriam constituir o "resto de Israel" a partir do qual iria florescer de novo o fervor religioso.
O máximo de sua tirania ocorre quando Jezabel suborna duas falsas testemunhas para executar o pobre Nabot que tinha recusado vender sua vinha ao rei. Elias anunciou então a morte de Acab, o que acontece alguns anos mais tarde após o combate contra os Amorreus. O filho de Acab mal tinha começado a reinar e foi assassinado por Jeú, um jovem soldado que tinha sido ungido por Eliseu, discípulo de Elias, com o objetivo de destruir os altares do Baal cananeu. Mas Jeú tinha escondido bem a sua real intenção, que era o desejo de poder. Acabou assassinando Jezabel e todos os seus filhos e se tornou um déspota sanguinário e adorador de ídolos também. Mas sua loucura acabou encontrando o fim, quando as tropas de Azael, o Arameu, subiram para o Reino de Israel, reduzindo a sua população numa colônia submissa.

Essa situação humilhante durou até ao colapso do poder dos Arameus. Reencontrando sua autonomia nacional, Israel é dirigido por Jeroboão II, bisneto de Jeú (em torno de 783-743 a. C.) que retomou suas antigas fronteiras. No início ocorreu um espírito fiel à Torah, mas bem logo voltaram os cultos aos outros ídolos e aos bezerros de ouro. Isso trará como consequência também uma queda no plano moral.

Novamente os ricos se enriqueciam às custas dos pobres, governantes que eram tiranos e os próprios sacerdotes que abusavam do seu poder. Apesar dos conselhos do profeta Amós, o arrependimento não ocorreu. O povo não se dava conta da sua infidelidade à Aliança do Sinai, e achava que sempre seria protegido por Deus. Mas Amós lembrou-os bem que a proteção divina estava indissoluvelmente ligada à prática da justiça e do direito, mas nada ajudou.
Em 738, o rei da Assíria Tiglath Phalassar III e seu poderoso exército entraram nas fronteiras do norte da região e conquistaram todo o Reino de Efraim. [4]Menachem, rei de Israel, aceita submeter-se a ele pagando um pesado tributo. Seu sucessor Pekah tenta afastar o invasor que exigia mais do que o povo podia oferecer e este firma aliança com o Egito, antigo inimigo declarado da Assíria. O profeta Oséias profere horríveis previsões contra os Israelitas, pois essa aliança com o faraó se traduzia na falta de confiança no Eterno Senhor. Israel era culpado de infidelidade. Como uma mulher inconstante, ela fugia da intimidade do amor conjugal em casa para se prostituir com numerosos amantes. E assim Deus, sempre amando Israel, esperava também pelo retorno da sua bem-amada. Este retorno não aconteceu.

Informado da conspiração, Teglath Phalassar invadiu o país e deportou mais da metade da população, deixando somente escapar a pequena província da Samaria. Seis anos mais tarde, Samaria que mantinha sempre relações com o Egito foi tomada e destruída em 722 a.C. O resto dos habitantes foi levado cativo para a Assíria. Perdidos num local estranho, misturado com outras populações, incapazes de se firmarem, as dez tribos de Israel desapareceram definitivamente do mapa. Somente restou o reino do Sul, ou seja, uma sexta parte da totalidade da nação.