133 – Os Desafios – A questão

Os desafios a questao

Para o observador moderno, o judaísmo, seja no aspecto religioso, ou como pertença de identidade, se apresenta como um conjunto complexo. É suficiente pensar nos jornais de Israel ou na imprensa dos países onde estão outros judeus para termos consciência da complexidade do fenômeno. Não somente o judaísmo apresenta múltiplas visões, mas as numerosas maneiras de ser judeu (ou reivindicadas como tais) são colocadas muitas vezes apenas para mostrar as diferenças, até mesmo as suas oposições, quanto à interpretação da Bíblia, à educação, à relação com Israel – Diáspora, ao processo de paz Israel-Palestina, para o papel e o significado de uma comunidade, ou para o diálogo com outras confissões religiosas, etc.

Existe um ditado popular que afirma: "dois judeus, três opiniões". Ele traduz bem essa realidade sociológica, o humor que muitas vezes facilita a ultrapassar as tensões. Biblicamente era mais fácil definir o Hebreu. Com a modernidade isso ficou bem mais difícil. Nunca uma comunidade esteve tão convencida da necessidade de refletir sobre a definição da sua identidade. A saída do gueto, o Sionismo, a Shoah, a proclamação do Estado de Israel geraram uma reivindicação de reconhecimento de todas essas identidades fragmentadas.

Muitos intelectuais, pesquisadores, responsáveis de instituições falam de uma crise do Judaísmo, como se fala da crise de valores no mundo secular. Alguns profetizam sobre o desaparecimento do judaísmo da diáspora daqui a duas gerações, outros apostam numa ruptura radical entre leigos e religiosos em Israel. Outros denunciam o exagerado sectarismo dos ultra-ortodoxos, outros esbravejam contra o laxismo liberal.
O que é uma crise? Termo de origem médica, ele significa segundo a etimologia grega (krisis), uma decisão. Uma crise surge quando se torna necessário decidir, quando uma escolha deve ser feita, quando muitas forças juntas parecem se excluir mutuamente. A crise, sob o ponto de vista social ou político, é reveladora de um movimento, de um caminho, de uma explosão de forças consideradas como incompatíveis.

Hoje a crise no Judaísmo não se trata mais de disputas racionais entre racionalistas e kabalistas, de diferenças entre tradicionalistas e reformados, de oposição entre hassidim e os lituanos, da ignorância entre leigos e religiosos ou de conflitos entre pais e filhos. Trata-se de tudo isso simultaneamente, mais a bagagem de uma memória acrescida de novos fatores sociológicos. A questão real é saber se é possível estabelecer um diálogo entre essas tendências. Poderiam ser pacíficas as tensões entre um leigo de Tel-Aviv e um religioso de Jerusalém, entre um sionista comprometido e um judeu na diáspora, entre um Loubavitch de Brooklyn e um liberal de Londres? Ou nada mais pode ser feito? A particularidade de uma religião, como de uma filosofia, deve considerar tudo isso junto sem problemas?

Talvez a unidade seja mesmo como uma utopia: um ideal a ser perseguido. Todas essas tendências do judaísmo comprovam que são uma força viva, importantes para o desafio de ser judeu no futuro.