128 – O Hassidismo

O Hassidismo

O Hassidismo ou "movimento da caridade" nasceu no Oeste da Ucrânia em Podolie, graças a uma personalidade carismática e um grande místico, rabbi Israel ben Eliezer (1700-1760) chamado também de "O Mestre do Nome bom" ( o Baal Chem Tov). Pode-se explicar o nascimento desse fenômeno, o último de grande alcance antes do Sionismo, por causas das condições econômicas desastrosas e o ódio antissemita que conheceram as comunidades judaicas no século XVIII nessas regiões. Condições de vida miseráveis, e mais a ruptura social que se estabelecia entre uma elite intelectual judaica ortodoxa que tinha acesso aos textos do Talmud, e cujo líder era o brilhante rabbi Eliahou chamado Gaon de Vilna, mais ainda uma massa de operários que sofriam tanto de pobreza material como de indigência espiritual [1].

O Hassidismo é um movimento místico, apoiado na tradição Kabalista, sobretudo à da cidade de Safed. Ao contrário de outras correntes, ele aspira ao fim do exílio e a redenção final. Mas essa redenção cósmica deve passar pela libertação espiritual de cada homem, como se cada um fosse seu próprio Messias. Para o Hassidismo, somente Israel pode verdadeiramente realizar esse trabalho interior pela prática das mitsvot (preceitos) e desse modo agir sobre a divindade e de libertar a Shekhiná, "Presença Divina" de seu exílio.

O aspecto particular desse movimento é o lugar central dado à devekout, a união mística com Deus. Aquele que alcança esse estado é um verdadeiro Justo, um Tsadik. E por isso o lugar de destaque dado ao Rabbi ou Rebbe (o Mestre) que alcançou essa união. Os discípulos desse movimento, os hassidim (plural de hassid – piedoso), dependiam diretamente da bênção, do ensinamento e dos conselhos desses mestres, que os oferecia em profusão. Alguns se anulavam no seu Eu diante da autoridade do Rebbe. Verdadeiras dinastias se levantaram. Cada movimento para se distinguir do outro, traziam o nome das cidades de origem como Breslaw, Loubavitch ou Satmar.

O Hassidismo é fundado no serviço a Deus na alegria e no canto, a tristeza vista como expressão do mal e das forças negativas. Somente a alegria, a dança, a música poderiam caçar os pensamentos malvados e permitir ao fiel de se purificar e de se elevar. Na contra corrente do intelectualismo de um Maimônides, ou dos compromissos civis de um Mendelssohn, o Hassidismo deu ênfase à espontaneidade do coração, à fidelidade da tradição, se distinguindo até dos não judeus pelo uso das suas vestes.

A grande contribuição do Hassidismo foi a sua literatura (a Hassidout) e sua maneira original de interpretar os textos bíblicos, no plano alegórico e das homilias. Ela traduzia os termos complexos numa linguagem simples para a vida cotidiana. O Hassidismo não teria alcançado o sucesso que teve sem os inúmeros contos e as suas anedotas saborosas que coloriram o fervor popular, veiculando sempre um ensinamento prático.

Dentre os seus maiores mestres citamos: rabbi Levi Itshak de Berditchev (1740-1809), rabbi Nahman de Braslaw (1772-1811) neto do Baal Chem Tov, conhecido por causa do seu pensamento original como "o místico psicanalítico". Autores como Martin Buber, Isaac Bashevis Singer ou Elie Wiesel devem muito à espiritualidade do Hassidismo. A tendência mais famosa do Hassidismo hoje é a tendência Loubavitch, muito importante nos Estados Unidos e em Israel, que sob a condução do rabbi Menahem Mendel Schnnersohn (1902-1994) do Brooklin, transformou o Hassidismo clássico em fenômeno midiático. No final de sua velhice ele afirmou que ele era o Messias.


[1] Cf. Haddad, Philippe. Op. cit.,  p. 201.