87 – As Leis alimentares

As leis alimentares detalhes

A lei referente à alimentação desenvolve um papel central em todas as culturas humanas, e em relação ao Judaísmo isso não é uma exceção também. Podemos até mesmo dizer que as regras alimentares estão no coração do rito. A lei judaica chama isso de kasherout e ela possui uma história que nós agora iremos apresentar[1].

De Adão a Noé

Adão, o primeiro homem, recebeu duas leis: com relação ao ato de procriar e uma segunda lei em relação à alimentação: "De todas as árvores do jardim tu comerás e da árvore do conhecimento do bem e do mal tu não comerás" (Gn 2,16-17). É sobre essa última parte que se baseia seu futuro. No jardim do Éden o homem é vegetariano, sobretudo comendo as frutas. Ser homem significa saber gerar o seu apetite de viver.

Mas Adão ainda não está maduro o suficiente. Ele consome o fruto proibido. Voltando do jardim do Éden, ele mantém seu estatuto de vegetariano, mas deverá trabalhar a terra para comer do pão. Os homens guardarão essa modalidade alimentar até à geração de Noé.

Após o Dilúvio, a humanidade se tornou carnívora, é o que se deduz do versículo do Talmud: "Tudo o que vive e se move vos servirá de alimento. Eu vos entrego tudo, como já vos dei os vegetais" (Gn 9, 3-4) Existem, no entanto, duas restrições que se deduzem da Escritura: a humanidade está proibida de consumir um membro de um animal ainda vivo e de consumir o sangue de um animal vivo.

Aqui, o consumo da carne apareceu como uma concessão em relação ao projeto divino original. Os seres humanos se tornaram muito violentos e o Criador prefere carnívoros que se respeitem, a vegetarianos que se devorem entre si.


[1] Cf. Haddad, Philippe. Pour expliquer le judaïsme a mes amis. Paris: Éditions In Press, 2013, p. 151.
[2] Tratado – Grande Tribunal – Sanhedrin 59a.