79 – Hanuká

79 Hanuka

Hanuká quer dizer inauguração (ou consagração) e refere-se à reinauguração (ou re-consagração) do Templo ao serviço divino, depois que havia sido profanado com imagens e práticas pagãs[1]. Enquanto a origem de Purim se situa fora das fronteiras da Judéia, Hanuká teve como cenário de ação Jerusalém. Depois da morte de Alexandre, o Grande, a Judéia foi ocupada pelos Gregos, mas o culto mosaico foi mantido. Alexandre não tinha destruído o Templo. Um dos herdeiros do trono, Antíoco IV decidiu impor o helenismo a todo o império oriental a fim de unificar seu reino. Essa foi uma atitude inesperada para a época. Pois a Antiguidade tinha sido caracterizada por uma tolerância e um sincretismo religioso que fazia dispersar todo tipo de fanatismo. O novo rei introduziu no santuário de Jerusalém os ídolos, obrigando o povo a sua adoração.

Naquela época vivia uma família de sacerdotes, os Hasmoneus, cujo velho pai Matatias era o grande pontífice, e que teve cinco filhos, dentre eles Judas. Recusando a religião de Atenas, Judas liderou uma guerrilha sem fim contra o tirano. Isso foi uma exceção na história judaica, pois os sacerdotes eram considerados os homens da paz e da bênção, até ao ponto de serem proibidos de pegarem em armas para o combate. Mas a situação foi diferente ali, pois o Templo tinha sido contaminado com os ídolos. Judas conseguiu reunir em torno dele milhares de soldados e conseguiu vencer o exército mais poderoso da época. Ele libertou Jerusalém no dia 25 do mês de Kislev.

Por reconhecimento ao Eterno, os vencedores quiseram acender o candelabro de sete braços com óleo de oliva consagrado, mas eles somente encontraram uma pequena quantidade que daria para queimar a luz durante somente um dia. O óleo levava no mínimo sete dias para ser preparado, e eles usaram aquela pequena e única quantidade. A Tradição nos conta que um milagre ali aconteceu: o óleo queimou durante sete dias. No dia 25 de Kislev (que corresponde ao mês de Dezembro) se comemora a Festa de Hanuká, dia da "inauguração" do Templo que foi consagrado como o tinha sido na época de Salomão.

Para celebrar essa festa em cada noite uma vela suplementar é acesa num candelabro de oito braços, até ao oitavo dia, por causa do milagre. Essa ascensão luminosa significa que a escuridão (ou o obscurantismo) terminará sempre por ser vencido. As crianças recebem numerosos presentes nesse dia.

Se Purim possui seu próprio livro "o rolo de Ester", Hanuká não tem o seu "rolo dos Macabeus". Este não faz parte do cânon bíblico hebraico[2]. Por que ocorre esta omissão? É porque os descendentes de Judá se auto-proclamaram reis de Israel e porque para a Bíblia isso era uma falta: poder político e poder religioso devem obrigatoriamente ser separados.


[1] Donin, Rabino Hayim Halevy. O ser judeu. Guia para a observância judaica na vida contemporânea. São Paulo: Editora Sêfer, 1972, p. 275.
[2] Cf. Haddad, Philippe. Pour expliquer le judaïsme a mes amis. Paris: Éditions In Press, 2013. p. 143.