134 – O Diálogo entre Ortodoxos e Liberais

O Dialogo entre Ortodoxos e Liberais

Seria mesmo impossível o diálogo entre judeus ortodoxos e judeus liberais? Entendamos "ortodoxos" como aqueles que aderem a uma prática escrupulosa dos ritos, segundo as conclusões do Talmud e "liberais" aqueles que questionam essa abordagem totalmente ou ao menos em parte. Para o judaísmo a fé é inseparável de uma hermenêutica e de uma prática adequadas? Quem pode interpretar e como? De onde vêm a autoridade dos mestres, de Deus ou dos rabinos que interpretam os textos de Deus? Dependendo das escolas, as respostas são diferentes.

De um ponto de vista a tensão é bem maior do que com outras religiões, pois com elas a separação é clara. Algumas contravenções de judeus não o fazem perder o status de judeu. Mas por quê? Porque apesar das violações da lei estrita, o ser judeu não está ligado à proclamação de um dogma, mas depende da filiação no seio de uma comunidade de memória e de destino, que remonta a Abraão[1].

Os ortodoxos culpam o mundo liberal de ter 'institucionalizado" a transgressão, relativizou as fronteiras da interpretação e diminuiu da Torah seu caráter revelado. E tudo isso prejudica uma convivência pacífica. Em Israel, por exemplo, a condição civil (casamento, divórcio, conversão) é feita por um rabinato ortodoxo, e isso gera sempre conflitos e atitudes violentas com judeus liberais que vieram dos Estados Unidos. Na França, a situação se tornou complicada com casamentos, conversões e nascimentos que não são reconhecidos pelos rabinatos de estrita observância.

Deve haver um diálogo, por quê? Porque o "espaço comunitário" deve ser sempre maior que o "espaço religioso". Estamos num momento onde o religioso é o "senhor da sua casa", mas é também "um simples convidado" na comunidade. O centro comunitário se tornou o lugar da reunião "pluri-identitária" por excelência, e a sinagoga permanece sendo o espaço da oração e muitas vezes do estudo.


[1] Somente a rejeição da fé, abertamente anunciada diante de duas testemunhas, colocaria o sujeito fora do circuito. E mesmo assim, o arrependimento seria sempre possível.