126 – Moisés Mendelssohn

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A situação poderia ter parado aí se no século XVIII não tivesse surgido um novo filósofo, um dos iluministas, que declarou guerra aos preconceitos e que combatia o fanatismo religioso, exaltando uma grande tolerância para com as minorias étnicas, e particularmente para com os judeus. E no coração desse movimento nasceu quem iria ser considerado como um novo Maimônides: Moisés Mendelssohn (1729-1786).

Ainda jovem estudou com paixão o Guia dos Perplexos de Maimônides. A pobreza do seu pai o obrigou a ir sozinho estudar em Berlim as línguas (o latim, o francês e o inglês), as ciências profanas (especialmente as matemáticas) e a literatura alemã com seu amigo Lessing. Ciumento de tal espírito o teólogo suíço Johann Kaspar Lavateur usou de todos os argumentos para converter esse gênio ao cristianismo, mas Mendelssohn recusou, permanecendo fiel e um praticante brilhante. Foi como reação a tal atitude que Mendelssohn publicou a sua obra.

Certo que o espírito humano é aberto à tolerância, foi a sua abertura às outras religiões e sua oposição à violência e à coerção bíblica ou rabínica, que foi lhe possibilitando depurar a fé das suas superstições, da idolatria e do pensamento irracionalista. Mendelssohn abriu com essa atitude a porta a certa crítica dos textos fundadores, crítica que não aceitava a ortodoxia fria, dura e pura, para ele a Revelação era um dom oferecido de forma permanente, além do tempo e da História. Foi censurado de estar na origem da Reforma chamada Haskala (Movimento das Luzes) e da divisão que em seguida aconteceu. E procuraram culpá-lo por causa desse pensamento a conversão do seu próprio neto ao cristianismo, o célebre compositor Felix Mendelssohn-Bartholdy.

O que Mendelssohn propôs na verdade, como Maimônides quis também na sua época, foi oferecer meios de estar à altura das grandes idéias da filosofia e da ciência que estavam se desenvolvendo. A saída do gueto e a emancipação de seus irmãos que defendia com tanto rigor, não significa o abandono da Sinagoga. Procurou tão somente esclarecer a essência da fé hebraica. Não procurou enclausurar o judaísmo num universo fechado, pois isso seria reduzir a mensagem do Sinai a um discurso sem significado, numa dialética monótona, o que seria insuportável.