109 – Juda Halevi

109 Juda Halevi

Juda ben Samuel Halevi de Castilha (1075-1141), em árabe Abou 'l-Hassan, foi um poeta fecundo e cheio de perspicácia (criou o gênero poético religioso das Sionidas), um dos maiores da Sinagoga. Ele foi igualmente um eminente pensador, embora reservado quanto à metafísica e um gramático de alto nível. Foi na sua maior obra, o livro de Kuzari, com o subtítulo: O Livro da prova e do fundamento da religião menosprezada, onde ele desenvolveu sua visão do judaísmo. Sob o pretexto da conversão no século VIII do rei dos Czares e de seu povo ao judaísmo, ele preparou a cena para o seu discurso. Esse rei, em busca da verdade, se encontrou sucessivamente com um filósofo, um cristão, um muçulmano, antes de dialogar com o rabino. 

Juda Halevi foi o primeiro a opor o "Deus de Aristóteles" ao "Deus de Abraão". O primeiro é um deus em geral, organizador de uma natureza eterna, mas sem conhecimento íntimo algum do ser humano e nada esperando dele. O Deus de Abraão é, ao contrário, um Deus que comunica, que traz um nome, que pode ser invocado e que chama seus profetas. O temor e o amor de Deus não são conceitos vãos, mas as colunas da vida religiosa que geram a alegria do serviço divino; essa alegria do fiel que contrastará radicalmente com a austeridade do filósofo[1].

Outro tema importante é o da Revelação. Momento único na história humana, ela não se dirige a um ou outro indivíduo e seus discípulos, mas ela se dirige a toda uma coletividade humana. Essa experiência foi tão forte que foi preciso mantê-la viva nos espíritos e na memória. Tal foi o objetivo indicado pela prática dos mandamentos.

Para Juda Halevi cada rito cumprido se torna um novo compromisso diante de Deus. Ao respeitar o Shabat, ao colocar os tefilins, na hora de rezar, ao tocar o chifre do carneiro no Ano Novo, o fiel assume novamente a aliança do Sinai, e aceita a continuar a ser testemunha de Deus aos olhos da humanidade, mesmo se o Exílio impede a casa de Jacó de viver plenamente seu papel de "reino de sacerdotes". A partir de então "Israel é para as nações aquilo que o coração é para o corpo", um centro vital que alimenta através do seu discurso profético, a História inteira. A sobrevivência na história dessa nação desprezada só pode ser explicada através de uma providência particular, que ao proteger Israel, preserva a sua mensagem.

Para Juda Halevi, é justamente o fato de Israel estar vivo que demonstra não um seu crime praticado, mas demonstra ao contrário a sua fidelidade à Aliança. Essa dura cerviz é justamente o que causa inveja e ódio dos povos para com Israel. A história é portadora de um projeto divino. Para ele os descendentes de Abraão são "uma bênção para todas as famílias da terra". Pode-se dizer que ele foi o precursor do Hassidismo do século XVIII e do sionismo religioso do século XIX. Seu sistema com profundas intuições religiosas, não conseguiu responder aos ataques do naturalismo aristotélico. Era preciso agir no próprio terreno da filosofia. Esse foi o trabalho de Moisés ben Maimon, chamado Maimônides, a Águia da Sinagoga.


[1]Cf. Haddad, Philippe. Pour expliquer le judaïsme a mes amis. Paris: In Press Éditions, 2013, p. 179.