89 – A Carne, não o sangue

A carne nao o sangue

O Deuteronômio (12, 20-28) ensina: "Quando o Senhor teu Deus tiver alargado as tuas fronteiras, como Ele te disse, e tu disseres a Ele 'eu comerei carne', pois teu instinto deseja comer carne, de todo o apetite do teu instinto[1], tu comerás a carne".

O desejo "instintivo" que consiste em querer consumir da carne, não é de todo condenado, pelo contrário, o versículo autoriza a comer a carne do animal com certo apetite[2].

Mas a concessão divina é terminantemente clara quanto ao consumo de sangue. Segundo o Talmude[3] existe um instinto ligado ao consumo do sangue, e por isso, a Torah deve claramente ser forte, isto quer dizer: "domina a ti". Sabemos que nas sociedades primitivas, o canibalismo era uma manifestação pela procura da vitalidade, nas Olimpíadas os atletas consumiam a carne fresca de animais para adquirir a sua força. Da mesma forma, os judeus eram caluniados de morte ritual afirmando que eles fabricavam o pão ázimo com o sangue de uma jovem criança cristã (!!?), ou seja, sempre existiu essa ambivalente mentalidade ocidental a respeito do sangue.

A fantástica literatura sobre Drácula e lobisomem constitui de algum modo a trama dessa psicologia. Diante dessas possibilidades, a Bíblia autoriza o consumo do animal, mas não da animalidade. Essa proibição do sangue, se estende também aos ovos, que caso apresentem um ponto vermelho na gema, são imediatamente jogados fora.


[1] É melhor traduzir nefesh por "instinto" antes do que "alma" ou "sopro", para oferecer uma coerência com o versículo 23.

[2] A Bíblia não condena sistematicamente todos os desejos humanos. Antes de frustrar a pessoa, ela quer ajudar a canalizar a pulsão, como no caso da "a bela cativa" (Cf. Dt 21,10) que é autorizada sob certas condições.

[3] Tratado – Páscoa – Pessahim 15b. – O Grande Tribunal – Sanhedrin 59a. – Flagelações – Makoth 23b. – Coisas Profanas – Houlin 102b.