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Termo Definição
Abel
Glossários: Primeiro Testamento

No Livro de Gênesis, cuja primeira parte reflete uma imagem bastante metafórica a tradição mais antiga sobre a humanidade, e chama de Abel o segundo filho de Adão e Eva. Seu nome, do hebraico hebel ou habel, lembraria uma precária comparação àquela de um "sopro"; mas poderia ser simplesmente uma palavra de origem do acadiano Ibila, "filho".

Abel se torna pastor, personificando os povos de pastores nômades, enquanto seu irmão Caim, personifica os povos sedentários que cultivam o solo. Cada um oferece ao Senhor Deus os produtos do seu trabalho: algo dos seus rebanhos ou algo das suas colheitas: é sempre um ato de adoração para com o Criador, mestre de todas as coisas e de todas as vidas, dispensador de todos os bens. O SENHOR se agradou da oferta de Abel, mas não com a oferta de Caim, que "concebeu uma grande cólera". Denunciando "o pecado espreita à tua porta", e o resultado da sua infeliz frustração, a Escritura apenas sugere aquilo que desenvolverão as interpretações da procura do sentido do texto: a oferenda de Abel era generosa na sua intenção e pura naquilo que lhe inspirava o ato; mas a oferenda de Caim era avarenta ou desinteressada.

Poderia haver aqui um testemunho sobre a vida dos Hebreus quanto à sua pureza da fé e de sua moral; não seria impossível que o autor sagrado quis demonstrar a superioridade espiritual dos grandes ancestrais, fiéis a esse estilo de vida, sobre outro estilo de vida dos Cananeus, ligados ao trabalho da terra, cheios de exemplos de idolatria que se revelavam serem bastante perigosos para a fidelidade do povo escolhido por Deus e à Sua Lei, quando conviviam juntos. Mas ainda não é esta a lição essencial.

O panorama da história da humanidade proposto nesses primeiros capítulos do Livro de Gênesis (Bereshit) permite-nos sobretudo discernir sobre o drama dos dois irmãos, filhos de Adão, o drama dos homens diante da presença de Deus: desde as origens, encontram-se pessoas de coração sincero, e aqueles que se recusam, enganam e se revoltam contra Deus. É também esse o drama das pessoas entre si, com a lembrança e a condenação do primeiro assassinato: Abel é morto por Caim ciumento e invejoso do favor do Altíssimo cujo beneficiário foi o seu irmão. O nome de Abel não mais aparece no Antigo Testamento, mas o texto bíblico que mostra o sangue do justo derramado por uma mão criminosa reside em todas as memórias e até hoje. Jesus faz menção disso no Evangelho de Mateus 23,35 e em Lucas 11,51. O apóstolo João numa das suas cartas, cita o famoso fratricídio como o exemplo típico dos atos contrários à caridade fraterna que deve unir a humanidade, filha de Deus (1Jo 3,11-12). O Apóstolo Paulo por fim louva a fé que animava o justo Abel em sua oferta a Deus e vê nele a primeira vítima da maldade humana, e interpreta isso como uma imagem do sacrifício de Jesus, o mediador cujo sangue também foi derramado sobre a cruz (Hebreus 11,4 e 12,24). Os próprios Padres da Igreja e a tradição cristã associam o sacrifício de Abel ao sacrifício do Cristo, o qual aquele aparece como uma prefiguração deste.[1]


 [1] Cf. Gerard, André-Marie. Dictionnaire de la Bible. Paris: Robert Laffont, 1989, p. 6-7.